Cada país tem sua música jovem local. O Japão não foge à regra e lá este tipo de som movimenta uma indústria gigantesca e bem estruturada. O J-Pop, que é como se convencionou chamar a música pop no Japão, tem características bem peculiares. Pode agregar influências do techno e de sons eletrônicos, misturá-los a hard-rock, rock estilo anos 60, rap, orquestras e instrumentos da música japonesa tradicional. Tudo com muito inglês nos títulos e em versos nem sempre com gramática e pronúncia corretas. É um universo rico em sons e estilos.
A EXPLOSÃO DO J-POP
Com suas influências estrangeiras misturadas a ingredientes próprios, o J-Pop ganhou força nos anos 80 graças a nomes como The Checkers, Masahiko Kondo (que já veio ao Brasil), Anzen-Chitai, Hideki Saijo, Chage & Aska, Wink e Seiko Matsuda, entre outros. Nos anos 90, despontou o talento do produtor e compositor Tetsuya Komuro. Além de incluir músicas na trilha da Copa da França e no filme Velocidade Máxima 2, Komuro ficou famoso no Japão por liderar seu grupo, Globe, e por ser responsável pelo sucesso Namie Amuro, do grupo trf (com minúscula mesmo) e de muitos outros artistas. Mas o grande fenômeno do final dos anos 90 foi Hikaru Utada. Esta garota de 16 anos derrubou veteranos com seu álbum de estréia chegando na casa dos 6 milhões de cópias vendidas em 1999.
As gravadoras lançam centenas de singles (mini-CDs de 8 cm) com músicas que depois serão incluídas nos álbuns normais. As músicas têm em média uns 5 minutos de duração, o que é apenas um pouco acima do normal para o ocidente. Os singles custam cerca de 1/3 de um CD normal, apesar de geralmente trazerem uma ou duas músicas apenas, mais as versões em karaoke. Os CDs no Japão são relativamente caros, (algo em torno de 30 dólares) o que não impede vendas de mais de um milhão de cópias para muitos artistas de destaque.
A FORÇA DO MARKETING
Comercial e popular, o J-Pop depende de exposição massiva na mídia. Geralmente, as músicas de maior sucesso são vinculadas a comerciais de TV ou trilhas sonoras de novelas, seriados, desenhos ou filmes.
Nesses casos, o J-Pop substituiu músicas de influência folk ou mesmo de enka, a tradicional canção japonesa, em função de um maior apelo ao público jovem. Deu certo, e singles de Macross (Robotech), Street Fighter, Ultraman Tiga e outros viraram também hits de FM. Tais singles geralmente são cantados por atores, dubladores ou, no caso das duas séries citadas, por estrelas em ascensão no cenário musical.
Populares entre as adolescentes, os grupos de rapazes dançarinos e cantores estilo Menudo ou Backstreet Boys estão sempre nas paradas. As meninas também não ficam de fora, e dezenas de grupinhos e cantoras com jeito de ninfeta e voz aguda são apresentadas ao público anualmente. Poucas se mantém na carreira, pois o padrão de menina angelical e voz quase infantil exige sempre novas ninfetas.
Entre os astros masculinos, um dos mais assíduos na mídia tem sido o sexteto V6, que teve sua música Take Me Higher usada como abertura da série Ultraman Tiga. Nesta série, um dos membros do V6, Hiroshi Nagano, também interpreta o alter ego do herói-título.
Em Samurai X, exibido pela Globo, canções do grupo Larc~en~ciel aumentaram a popularidade da série em seu país de origem. No Brasil, as músicas foram cortadas, o que neste caso não foi má idéia. O Larc~en~ciel faz parte da corrente Visual Rock (ou J-Rock, ou ainda Visual Shock), que privilegia o visual e as atitudes rebeldes em detrimento da música. Guitarras distorcidas e vocais esganiçados são a marca de muitos nomes do Visual Rock, que fazem um arremedo de rock pesado que só tem apelo ao público local. O grande ícone do movimento foi o grupo X-Japan. Recentemente, o quarteto Glay tomou de assalto as rádios nipônicas com seu estilo agressivo.
ATRAVESSANDO FRONTEIRAS
O J-Pop vem tentando reconhecimento mundial há tempos, cantando em inglês e mostrando que pode competir de igual para igual com os astros do ocidente, pelo menos no quesito qualidade sonora.
Em 1998, o veterano trio Dreams Come True lançou o álbum Sing or Die ~ World Wide Version, com todas as músicas em inglês e se lançou a fazer um show nos EUA. Não vingou, apesar da inquestionável qualidade vocal da líder Miwa Yoshida. Outra que tentou sem repercussão foi a eterna musa Seiko Matsuda, uma pop idol que mantém o jeito de menina mesmo chegando perto dos 40.
No ocidente, o único país a encarar razoavelmente bem o J-Pop é a Inglaterra. A extinta banda The Checkers já tocou por lá, bem como a dupla Chage & Aska. Populares até hoje no Japão, a dupla fez em Londres um Acústico (ou Unplugged, que é como a MTV internacional chama esse produto) altamente refinado e teve músicas regravadas por gente como Alejandro Sanz, Michael Hutchence (ex-INXS), Marianne Faithful e Maxi Priest. Os mesmos também gravaram (em inglês) o tema de Street Fighter - A Última Batalha, com Jean-Claude Van Damme, fazendo um clip que rodou o planeta. Mesmo assim, também não vingaram.
Ironicamente, os únicos nomes do J-Pop a conseguir alguma aceitação no ocidente são pouco conhecidos do grande público em seu país. O Shonen Knife e, mais recentemente, o Pizzicato Five (citado como influência pelo grupo Pato Fu), mostraram só a pontinha do iceberg de um universo musical extremamente rico e sofisticado. Outro nome respeitado no ocidente é o do cultuado tecladista Ryuichi Sakamoto, famoso por seu trabalho como ator e compositor no filme Furyo - Em Nome da Honra. Mas fora essa referência, pouco se sabe dele no ocidente. Mesmo a grande revelação Hikaru Utada arrisca passos tímidos nos EUA com o codinome Cubic U. Na verdade, fica difícil imaginar cantores japoneses tomando de assalto as paradas americanas (leia-se mundiais), mesmo cantando em inglês e apesar do talento dos nomes de ponta envolvidos.
Com lentos movimentos e de modo discreto, a J-Pop tenta mostrar sua cara ao mundo ocidental.
Artistas recomendados:
Anzen-Chitai (pop romântico), Chage & Aska (pop-rock), Nanase Aikawa (rock), The Checkers (rock), Fumiya Fujii (pop romântico), Multi Max, Infix (rock), Mariko Nagai (pop), Bz (pop-rock), Globe (techno-pop).
Fonte: Omelete